quinta-feira, 26 de julho de 2007

Ao encontro



Me deixa caminhar ao vento
Me deixa respirar ao vento

Deixa as folhas rolarem
O céu desabar
Cada novo dia raiar
se a mínima pretensão de ser um bom dia

Se esconder só para depois
se encontrar em cada grão de areia
E descobrir
que completo é algo que já não há.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sentimento do mundo

'Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer esse amanhecer
mais noite que a noite.'





Eu tenho um sentimento do mundo.
Ao olhar as janelas e ver que o meu cárcere
é um cubo chamado vida
eu tenho um sentimento do mundo.

Mas é claro, que quem sou eu
para sussurrar que tenho sentimento do mundo?
Só me disseram que deveriam ser gritos de universo.
Julgaram-me.

Números e Constelações




- Alguns dias eu acordo desse jeito.
- Isso que é intensidade de viver.
- Nem me fala.
- Gosto de Gullar.
- Eu também. E gosto de Neruda.
- Eu também.
- A vida é cheia de disparate poético.
- E de trovas em dó maior.
- Mas em meio a ese contexto todo nada faria mais sentido do que estar aqui, agora.
-Espero que o aqui e o agora se perpetuem.

Metade

Metade



"Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio…

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste…

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade…
também"

Ferreira Gullar

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Dy

Índio da mesma tribo
Som do mesmo batuque
Presente em cada sorriso meu
Irmão



Nem os caminhos tortuosos da vida separam
o que foi unido em uma simples curva.
Em três palavras: Eu te Amo!


(Para Rodrigo: Eterno responsável pelas cores da minha aquarela.)

Turner


Difuso, feito uma tela de Turner.
Retalhos distintos que nos trazem associações.

Pálido.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Teoria na vida ou A Nitidez



Viver, nesses dias, é constatar que tudo que é sólido se desmancha no ar.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Enclave


Para que não faltem os sons.
As cores.
Os versos.
A espontaniedade.

Cru


"Incenso fosse Música"

"isso de querer ser

exatamente aquilo que a gente é

ainda vai nos levar além"

(Leminski)



"De fato é uma pena..."




Transpassa cada passo
Eu transpareço em meio todo embaraço
O que já deixei outrora em teus braços.

terça-feira, 17 de julho de 2007

"A vida que me viveu"


"SE
se
nem
for
terra
se
trans
for
mar "
(Leminski)




Fragmento de um romance imaginado:

"Ela estava de costas. Sabia ao certo que era Ela. Não mais que de repente, sob a luz pálida do dia cinzento daquele inverno, virou o rostou e olhou-me sem mover um músculo, a princípio. Seu rosto não era comum. Era um rosto anguloso, forte. Rosto de olhos grandes, sombrancelhas arqueadas, de lábios cheios ... cheios ao certo nem sei de quê: de sons, de volume, de provocação, de brilho. Todo seu rosto, das maçãs saltadas às laterais sulcadas, escoavam para o queixo harmonioso.
Seu olhar de perfil em minha direção, não durou mais que segundos. Mas é este o olhar que me cativou vida adentro.
Nunca fomos próximos. Não partilhavamos interesses, amigos, vida. Não sei se partilhávamos gostos. Apenas eramos duas pessoas que se cruzavam no mesmo espaço ao mesmo tempo. Isso já bastava para quando atinguisse seus olhos, me perdesse eternamente por alguns segundos. E assim travava os diálogos mais ricos, os beijos mais ardentes, transformava o corpo em paixão. Nos entendíamos.
E transcorreram os anos provando que não havia de ser de outra forma."

Holder

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Encontros e Desencontros ou Teoria & Método

"Suas conversas à meia voz, até as mais vãs, eram plenas de sentido, como os diálogos de Platão. Mais ainda que sua comunidade de alma, o abismo que os separava do resto do mundo os unia. Nos momentos em que, como um eflúvio de eternidade, o sopro da paixão se pousava sobre sua existência condenada, descobriam e aprendiam coisas sempre novas sobre si mesmos e sobre a vida."
Pasternak







É isso que define. Plenamente.

Isso e um certo sorriso nos olhos, por hora, ausente.

sábado, 14 de julho de 2007

Onorismo no compasso da desilusão

Mais um final de semana

e eu aqui em casa

jogada

em puro onorismo.


Pensando, lembrando, sonhando.

Mas é pura imaginação.

"No compasso da desilusão".


Eu nem sei mais até que ponto é ou não é o real.

Talvez, entre nós ois, eu nunca soube de fato.


E falar de nós dois?

Seis palavras mexeram com corpo, alma e espírito.

Seis palavras ditas apenas por educação.


E enquanto eu devia estar ouvindo

"Acorde deste sonho lúcido"

Ouço apenas

"Mergulhe em cada gota de sonho"




"Quando encontrar alguém
e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
Preste atenção: Pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e neste momento,
Houver o mesmo brilho intenso entre eles,
Fique alerta: Pode ser a pessoa que você está esperando
desde o dia em que nasceu."
("Amar, verbo intransitivo" - Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

O ponto na parede

Não tem sido normal.

Aliás, o que exatemente nisso tudo o é?



Conjunturas, o tempo...

Queria conseguir dizer

Queria conseguir agir















E eu sinto tanto a sua falta.

E essa é a afirmação mais estranha que eu poderia fazer

até porque nem sei ao certo o que é sentir a falta.









Intensamente.

Eu intensamente você.

O que quer que seja.

É pura magia no escuro.

É o plano mental mais real que eu já toquei.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Entre o Real e o Imaginário

Existe? Existe não?





Linhas tênues entre o real e o imaginário, imaginado...








e a timidez, sempre e sempre, a tiracolo.












"quando eu vi você

tive uma idéia brilhante

foi como se eu olhasse

de dentro de um diamante

e meu olho ganhasse

mil faces num só instante

basta um instante

e você tem amor bastante"(Leminski)

terça-feira, 10 de julho de 2007

Beijar com todos os beijos






Beijar com todos os beijos.

E abarçar com todos os abraços.

E sentir...



A pulsação, o fôlego...

Não sei da aonde eles vem

mas sei arrebatam todo o corpo

e envolvem a alma



E olhar nos olhos e não ter mais poderosa

e expressiva reação que sorrir.



E sentir qua agora sim, o mundo todo está completo.

Amar, verbo intransitivo




Sempre pensei que "amar fosse se reconhecer em outros corpos".
Não reconhecer semelhanças físicas, gostos parecidos, personalidades similares.
É algo que transpõe. É de uma sutilidade apenas explicável a quem já a sentiu. O reconhecimento todo se revela naquele brilho inexplicável contido no olhar do ser amado. É hipnotizante. E a única reação possível é sorrir com os olhos, sorrir para aquele par de olhos que também te sorri, e deixar que te levem para aonde quer que seja.

Porque amar, com certeza, é o mais intransitivo dos verbos.