segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sentimento do mundo

'Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer esse amanhecer
mais noite que a noite.'





Eu tenho um sentimento do mundo.
Ao olhar as janelas e ver que o meu cárcere
é um cubo chamado vida
eu tenho um sentimento do mundo.

Mas é claro, que quem sou eu
para sussurrar que tenho sentimento do mundo?
Só me disseram que deveriam ser gritos de universo.
Julgaram-me.

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