terça-feira, 17 de julho de 2007

"A vida que me viveu"


"SE
se
nem
for
terra
se
trans
for
mar "
(Leminski)




Fragmento de um romance imaginado:

"Ela estava de costas. Sabia ao certo que era Ela. Não mais que de repente, sob a luz pálida do dia cinzento daquele inverno, virou o rostou e olhou-me sem mover um músculo, a princípio. Seu rosto não era comum. Era um rosto anguloso, forte. Rosto de olhos grandes, sombrancelhas arqueadas, de lábios cheios ... cheios ao certo nem sei de quê: de sons, de volume, de provocação, de brilho. Todo seu rosto, das maçãs saltadas às laterais sulcadas, escoavam para o queixo harmonioso.
Seu olhar de perfil em minha direção, não durou mais que segundos. Mas é este o olhar que me cativou vida adentro.
Nunca fomos próximos. Não partilhavamos interesses, amigos, vida. Não sei se partilhávamos gostos. Apenas eramos duas pessoas que se cruzavam no mesmo espaço ao mesmo tempo. Isso já bastava para quando atinguisse seus olhos, me perdesse eternamente por alguns segundos. E assim travava os diálogos mais ricos, os beijos mais ardentes, transformava o corpo em paixão. Nos entendíamos.
E transcorreram os anos provando que não havia de ser de outra forma."

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