quarta-feira, 12 de setembro de 2007

L. , o jogo, o filme e a bolha.



Para L., sua vida poderia ser enxergada a partir de uma série de metáforas distintas. Porém em todas atingiam apenas um alvo: a sua ausência em si própria.

Quado criança, L. não era ainda tão aconchada quanto se tornara em seus anos de mulher, todavia, as coisas que mais gostava de fazer, eram as que fazia consigo mesma.

Havia uma espécie de jogo, que a pequena L. durante anos idealizou. Tão minimalista e cheio de portas-secretas como o que a psicanálise convencionou chamar de subconsciente.

Ela imaginava que o ato que ela acabara de fazer, simbólicamente, contava a história da sua vida. Um exemplo: L. ia a gaveta pegar uma faca, sem querer deixava a faca cair no chão, depois a lavava, secava e utilizava. Contava-se, então:"Como se durante a minha vida eu quiser esquecer um episódio, cortando-o da minha memória (na figura da faca), porém a força do fato será maior que a minha e eu não vou conseguir esquecê-lo (a faca caiu no chão, escapando de minhas mãos). Então eu vou precisar, com um esforço maior do que eu utilizei para tentar aniquilar o fato, aceita-lo (lavar e sacar a faca), para depois seguir em frente (porfim utilizar a faca)."



A L. já vivida, sabia que dentro da corrida destinada do tempo, algo havia sido pisoteado. Sua relação com o entrepasse ao seu redor, era a menor possível. A sua interação era sempre mínima. As lembranças, mesmo as mais recentes, parecim gastas, um filme caseiro, cheio de defeitos e sem cores, produzido no início do século. Gasto e empoeirado, desfilava os mesmos personagens com outros atores o tempo todo.



L. tentava sempre escapar do filme, mas era como se a sala de cinema vazia fosse uma bolha, reluzindo imagens e sons, que L. sabia da onde vinham, sabia que eram gravados. Nenhum dos protagonistas a impressionava. Apenas alguma brisa fazia a bolha de L. oscilar um pouco ao vento.



E quem é que enxerga bolha direito com tanto reflexos? Ninguém...




E nada movia L.

Nenhum comentário: